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As ferramentas do homem de negócios pedem revisão e a chave é a diplomacia.

Empresários aprendem muito com os diplomatas, a começar com a comunicação na gestão de conflitos.

Há muito o que empresários poderiam aprender com a mentalidade dos diplomatas. A construção de pontes para viabilizar relacionamentos de longo prazo é uma das lições a serem aprendidas. O empresário não deve buscar atalhos ou adotar medidas que não se sustentam por muito tempo.

A gestão de riscos e de crises é uma arte que exige coerência e estratégia.

Os atores diplomáticos são verdadeiros mestres da comunicação e do convencimento, sempre focados em uma dinâmica conciliatória e de ganhos mútuos. São essencialmente estimulados a adotar medidas criativas, sustentadas por bases sólidas, que não entrarão em colapso facilmente.

Os empresários da atualidade lidam cada vez mais com questões reputacionais, gestão de crises, com tomada de decisão quase que imediata e sob imensa pressão. Não é raro estar na agenda empresarial assuntos sérios como cybersecurity, pirataria, direitos humanos e degradação ambiental. Um cenário bastante árido e hostil, como o de uma guerra, mas sem armas.

Gestão de conflitos

Os conflitos internos e externos fazem parte do dia a dia de um CEO e é preciso um certo grau de cuidado para que tais conflitos não coloquem em risco a carreira daquele profissional, os negócios da companhia e os melhores interesses dos acionistas. A caixa de ferramentas de um “homem de negócios” precisa ser revisada, para que seja mais prática, eficiente e adaptada aos desafios da atualidade. É justamente nesse contexto que a arte diplomática pode ajudar.

Quanto mais o líder empresarial sobe na escada da carreira, mais ele se sente sozinho. Parece contraditório, mas não é. O alto executivo é um ser isolado.

A diplomacia vem ensinar, contudo, que a resolução de problemas e a tomada de decisões são mais eficazes se discutidas de forma colegiada, onde diferentes visões podem ser apuradas e consideradas para a decisão final no contexto global do conflito.

Nada deveria ser decidido de forma unilateral e fragmentada, caso contrário todos correriam o risco de decisões autoritárias e enviesadas. Na diplomacia, não há espaço para autoritarismo ou parcialidade. O sistema plural é a essência, porque permite a absorção de ideias, interesses e necessidades de terceiros neste complexo processo de tomada de decisão e de gestão dos conflitos.

Decisões conjuntas

Cultivar uma rede multilateral e integrar todos os atores por meio do diálogo é uma importante premissa na diplomacia. Sem isso, o diplomata, assim como o empresário, fica exposto ao risco da assimetria das informações e, consequentemente, se torna mais vulnerável a críticas e questionamentos.

Um bom diplomata busca informações, ouve o máximo possível, entende a causa raiz do problema e mergulha a fundo no porquê daquele conflito. De forma estratégica e pragmática, constrói alianças e parcerias internas e externas, objetivando interesses complementares, contribuindo para relações duradouras e seguras. Essa coesão ajuda a aumentar a qualidade da decisão, fundamentada de forma contextual, diversificada e receptiva. Isso certamente contribuiria para que as companhias diminuíssem os riscos econômicos, jurídicos, comerciais e de governança.

Empresários e diplomatas têm em comum a dificuldade e a complexidade de suas atividades. Não há um dia nas suas vidas profissionais que não traga elementos de pressão, agressividade, insegurança e instabilidade. Para contornar esses desafios, uma prática da diplomacia que pode ajudar é o estabelecimento de regras e políticas, justamente para que haja um conjunto de normas que possam dar o norte às discussões sobre gestão empresarial e de conflitos.

Seria como “enquadrar” o problema, inserindo-o em um contexto (ainda que conceitual) de regras preestabelecidas e testadas, que foram desenhadas com base em experiências passadas da própria companhia e nas melhores práticas do mercado. Isso pode trazer maior segurança e previsibilidade. Tais regras, entretanto, não devem ser interpretadas como algo que engessa o processo de tomada de decisões. Ao contrário, são meros guias, que podem e devem ser proativamente flexibilizados às particularidades do caso concreto.

Objetivos comuns

Tanto no mundo empresarial quanto no mundo da diplomacia, os tomadores de decisão em um cenário de conflito devem sempre manter o foco no alcance de objetivos comuns, de resultados eficientes e duradouros, sempre no melhor interesse da coletividade (no caso do empresário, a empresa, e no caso do diplomata, o país). Nesse exercício, devem estar atentos ao alinhamento de expectativas e interesses mútuos. Nunca deve haver uma agenda individual, atalhos ou decisões de curto prazo.

Esses seriam os ingredientes para um cenário insustentável e instável, que comprometeriam os melhores interesses da companhia, que devem ser preservados permanentemente.

O empresário deve se espelhar no dever de cuidado, que também é rigorosamente seguido por diplomatas.

Esse dever exige um olhar para as pessoas que contribuem diariamente para a condução dos negócios, preservando um ambiente corporativo equilibrado e saudável. A prioridade é a proteção incondicional dessas pessoas, de modo que possam exercer as suas atividades com segurança e previsibilidade.

Diplomatas e empresários possuem um dever implícito aos seus cargos de ajudar e colaborar para o crescimento pessoal e profissional dos seus colaboradores, promovendo o senso de pertencimento e propósito.

Especialmente em épocas de crises, entender as reais necessidades e interesses faz com que as relações bilaterais e multilaterais se fortaleçam, tendendo a diminuir futuros conflitos. É fundamental ouvir, transmitir mensagens difíceis com o tom correto e respeitoso, idealmente sem julgamentos, permitindo aos liderados respeitar e acatar a decisão de maneira menos combativa.

Ação criativa

A mentalidade de um diplomata é muito influenciada pela habilidade de lidar com incertezas, fazendo com que sejam obrigados a resistir às pressões, “pensar fora da caixa”, buscar soluções pragmáticas para problemas complexos. Guardadas as devidas proporções, o líder empresarial pode fazer o mesmo, deixando de lado as práticas automatizadas de gestão de crise e conflitos e se forçando a pensar e agir de forma criativa, colaborativa e conciliatória, especialmente diante de situações tensas e delicadas.

Existe uma mistura de aptidões que podem ser transportadas do mundo diplomático para o mundo empresarial, mas talvez a receita ideal passe pela habilidade de construir caminhos rumo ao entendimento das diferenças, compreendendo a posição de todos os envolvidos, identificando o meio do caminho e buscando o consenso e ganhos recíprocos.

Advogado especializado em resolução de disputas internacionais. Mais de 20 anos de experiência em contencioso civil estratégico e arbitragem, tendo assessorado empresas e bancos em disputas relacionados ao mercado financeiro, M&A, construção, óleo e gás e insolvência. Membro do Conselho Diretivo Brasileiro do International Institute for Conflict Prevention & Resolution (CPR).